terça-feira, 12 de maio de 2009

Moro em São Paulo! E agora?
Capitulo 24
Crise.
Se passava um pouco mais de uma da manhã daquela quarta-feira. Pulei a janela do meu quarto com minha lata de cola e sentei no degrau da varanda e comecei a cehirar cola.
Eu estava ouvindo vozes vinte quatro horas por dia, mas não tinha visões sem a cola. Então mesmo assim continuei cheirando.
E logo comecei as vozes começaram a me torturar. Elas diziam que eu era muito feio e estranho e que jamais seria alguém na vida.
Comecei a me irritar com isso e quando vi estava discutindo com eles.
A discussão ficou feia. Dizia se vocês realmente são meus amigos, jamais fariam isso comigo... Logo sem perceber já estava mandando eles tomarem no cu. Disse quer saber não quero mais! Não vou mais cheirar cola. E peguei a lata e joguei inteirinha fora. Joguei num terreno baldio que ficava em frente da minha casa e era totalmente cercado. Não tinha como entrar e pegar de volta... E ainda joguei ela com a tampa aberta pra que a cola viesse a secar e assim não poderia me arrepender da minha decisão.
As vozes ficaram furiosas com minha reação e disseram:
- Ah é? Você vai ver. Você nunca mais vai dormir. Ameaçaram-me.
Pulei de volta pra dentro do quarto e deitei pra dormir.., as vozes não paravam de falar. Enlouquecendo-me. Liguei a TV para pegar no sono e logo adormeci.
Foi quando percebi estava dentro de um castelo antigo e escuro. Estava sozinho.
Ai comecei a ouvir um rugido de um animal feroz... Senti um frio na espinha...comecei a correr desesperadamente.
Foi então que pude ver um animal estranho... El tinha corpo igual a de um boi, era to cinzento mas a cabeça era de uma caveira como de um ser humano.
O rugido dele era de acovardar qualquer um. Corri um pouco mais depressa... Mas foi quando me dei conta que quanto mais corria. Mais se aproximava daquele monstro... Ele estava dentro de um porão. Meu coração doeu de tanto bater... Acordei.
As vozes estavam rindo. Dobrei meu joelho e orei assustado. Levantei e acendi a luz..a luz da TV somente não ajudava tirar o pânico.
Logo adormeci novamente.
Tive outro pesadelo com demônios vindo me pegar. Acordei aos berros dessa vez.
Não consegui dormir mais.
Durante o dia assim que fechava os olhos cochilando tinha pesadelo. Comecei a chorar.
Isso durou uma semana de pesadelos e noites mal dormidas... mas eu não queria mais cheirar cola mesmo... Aquilo havia saído do meu controle.
As vozes não me deixavam em paz. Comecei a ir à igreja.
Mas até mesmo dentro da igreja eles falavam comigo. Eles nunca me deixava em silencio. Quando passava na rua e via alguém sentado sozinho na calçada pensando na vida, morria de inveja. Porque já não tinha mais esse direito.
Começou uma fase terrível da minha vida. A pior.
Moro em São Paulo! E agora?
Capitulo 23
Recomeçando de novo
Não sei dizer o real motivo, mas apenas sei que o meu retorno à São Pedro me deu forças. Como se talvez me viesse a memória tudo o que me levou a sair daquela cidade.
Por enquanto a minha vida em São Paulo não esta como sonhei, mas sei que vai ficar. Novamente tenho que procurar emprego.
Segunda-feira de manha sai da casa de Fernanda, fui até a lan house imprimir uns currículos. Fui pra Paulista deixar alguns pelo shopping e escritórios. É nada de especial aconteceu, nada que tenha importância ou que me de alguma esperança de algum emprego.
Parei em uma lanchonete para almoçar, pedi um x-bacon acompanhado com uma bela coca cola geladíssima. Enquanto esperava meu lanche olhei para o lado e ver o “cardápio” se é que me compreendem.
Foi quando vi um rapaz moreno me olhando. Quando ele percebeu que olhei também virou o rosto com um pouco de timidez, seu rosto corou.
O garçom trouxe minha coca e colocou um pouco no meu copo, agradeci. Ao beber o primeiro gole olhei de novo para o rapaz que me olhava novamente. Sorri e ofereci a coca para ele.
Ele riu e recusou.
Comecei a comer... O rapaz de repente levantou-se e foi até o banheiro e antes de entrar me deu um sinal, me chamando para entrar no banheiro.
Meu coração começou a bater forte, minhas mãos começaram a suar. Quer saber o que eu fiz? Não resisti e fui até aquele banheiro. Quando entrei ele estava la parado olhando pra mim. Sorriu. De repente aquela timidez que ele aparentava ter deu lugar à pura sem-vergonhice. Ele nem se apresentou e começou a beijar ali mesmo, estava com medo de alguém entrar e pegar a gente no flagra, mas ao mesmo tempo aumentava minha excitação.
Totalmente entregue aquele beijo entramos na cabine do banheiro. Ele desceu suas mãos até meu zíper e foi descendo... E começou a me chupar... Ai não sei dizer o que me aconteceu... Sei lá. Perdi literalmente o tesão e não queria mais estar ali com ele. Comecei a sentir nojo. Então sem pensar duas vezes sai.
O cara não gostou muito. Só consegui ouvir ele dizendo: Viadinho filho da puta!
Não dei importância pra isso. Sentei de novo e segundos depois meu lanche chegou.
Comecei a comer e logo o cara saiu do banheiro e ao passar pela minha mesa me encarou com maus olhos e sentou novamente em sua mesa.
Mau consegui comer, por que aquele cara não parava de me encarar.
Paguei a conta e sai sem olhar para ele.
Fui subindo a av. Brigadeiro em direção ao metrô... Quando olhei para traz o cara estava me seguindo. Fiquei um pouco com medo... Apertei um pouco os passos e ele assim também o fez. Meu coração começou a bater forte, mas dessa vez era de medo. Não sabia o que aquele cara queria fazer!
Olhei para traz ele estava mais perto. Continuei andando e na esquina da Brigadeiro com a Paulista avistei dois policiais parados. Fiquei mais tranqüilo agora. Olhei novamente para traz, mas não com cara de assustado, mas tentando parecer com cara de mal.
Ele me encarou... Então virei e parei pra ver o que ia acontecer.
-Que foi que ta me seguindo cara? Falei engrossando a voz.
Minha reação o pegou de surpresa.
-Que seguindo o que? Ta louco? Disse ele quase gaguejando.
E passou por mim e não olhou mais para traz. Logo o perdi no meio da multidão.
Ri sozinho na rua. Logo cheguei ao metrô e parti em direção ao centro. Ia passar na loja que eu trabalhava pegar minha carteira de trabalho.
Cheguei à loja. Peguei minha carteira. Estava parado na porta conversando com meu ex-gerente foi quando ele disse:
-Olha essa mulher que vem vindo é Ana Paula. Ela é diretora da loja New house. Fale com ela sobre emprego. Esta com seu currículo ai?
-estou sim.
-Então demorou.
Quando ela chegou mais perto pulei na frente dela e disse:
-Você que é a Ana Paula?
-sou sim. Respondeu ela.
-Ah desculpa te parar assim na rua do nada. Mas to procurando emprego. Esta precisando na New House?
- De vendedor esta sim!
-Ah que ótimo. Posso deixar meu currículo com você?
Ela acenou com a cabeça positivamente.
Entreguei para ela que sorriu e eu sorrindo de volta e agradeci.
Bom agora a sorte ta lançada. Seja o que Deus quiser.
A loja New house vende madeira também. Mas da rua toda, as lojas mais bonitas é da New house. Tem três lojas na mesma rua. Ela tem As fachadas da loja preta com detalhes em prata. E o mostruário de portas exclusivas que não se vê em nenhuma outra loja.
Logo estava de volta a casa da Fernanda. Estava me sentindo bem! Estava em paz comigo... sei que vou conseguir outro emprego.
Desistir é que não vou!
Moro em São Paulo! E agora?
Capitulo 22
È Deus novamente

Assim que minha mãe saiu para trabalhar, levantei-me, fui até o portão para trancá-lo. Fui até o quintal, peguei minha lata de cola e comecei minha rotina.
Novamente meu mundo ganhou cor.
O não se ouvia mais o silencio.
Minha mãe em seu trabalho começou a ficar angustiada, até que não agüentando mais começou a chorar.
Nem ela sabia qual era o motivo daquele choro... Mas chorava de molhar toda sua face.
Eu em casa estava animado com minhas visões e conversava sem parar com as vozes. Na parede eles me mostravam umas imagens lindas de paisagens, de lugares de todo o mundo. Prometia-me que iriam me levar lá.
Então estava super feliz.
Ao contrario de minha mãe que cada vez mais chorava.
Logo minha conversa animada, do nada acabou... Sem perceber eu estava acordando.
Havia desmaiado. Tinha caído no chão por causa da inalação da cola. Tava fraco, me sentindo tonto, abri os olhos devagar e vi vários vultos estranhos me olhando e falando com vozes conhecidas...pronto ele acordou.
Levantei-me e continuei ali cheirando a cola e vivendo minha vida medíocre.
Não pensava em nada. Apenas estava ali. Tudo o que eu tinha era aquelas vozes e aquelas visões. Pensava eu.
Não sei dizer quanto tempo depois... Novamente tudo começou a ficar escuro... Ai de fundo apenas podia ouvir “agora ele vai... agora ele morre...”
Quando abri novamente os olhos vi minha chorando ao meu lado... Tirando a cola que ainda estava na minha boca. Mesmo morrendo eu não parava. Minha mãe tentou me levantar, mas não tinha força... Não consegui.
-Deixei-me aqui mãe! Eu não consigo!
Minha mãe entrou pra dentro de casa e me deixou deitado no chão do quintal.
Com certeza ela foi pra dentro para orar, pra pedir a Deus força pra agüentar ver seu filho ali quase morto por causa da droga.
Ela havia chorado tanto que seu patrão a mandou voltar pra casa pra descansar. Chegou mais cedo naquele dia.
Na verdade ela foi enviada por Deus pra me salvar de novo da morte.
Assim que consegui reunir força pra me levantar... Podia ainda ouvir as vozes dizendo... ”nossa pensei que você ia morrer”.
Sempre que acabava o efeito da droga as vozes também ia embora. Mas naquele dia elas não foram!
Continuaram comigo mesmo após o meu banho, mesmo após o meu jantar, mesmo durante o meu sono.
Já não precisava mais da cola pra ouvi-las. Tava ouvindo naturalmente agora.

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Moro em São Paulo! E agora?
Capitulo 21
O retorno.
Estava me sentindo enganado pela empresa “o melhor da madeira”. Ela me encheu de promessas, parecia ser bom demais. Mas a olhando de perto é uma empresa podre, que explora seus vendedores.
Todos que trabalham lá reclamam do salário, reclamam das vendas e da forma que o supervisor trata a todos, com muito desprezo e arrogância.
Como faltei cinco dias e as minhas vendas estava fraquíssima, adivinha? Cabei sendo demitido. Mas juro que não fiquei triste. Pagaram-me o que tinha de direito e peguei o dinheiro e decidi ir pra São Pedro. Afinal desde que cheguei a São Paulo meu contado com minha mãe é por telefone.
Preciso ir para lá. Pensar... Colocar minhas forças no lugar e depois eu volto pra recomeçar.
Fui pra casa de Fernanda, peguei algumas peças de roupas, coloquei dentro da mochila e parti rumo à rodoviária tiete, rumo a São Pedro. Quatro horas de viagem.
Desembarquei logo na entrada de São Pedro, no primeiro ponto do ônibus. Como é estranho Chegar aqui novamente. A cidade tem outro cheiro, outro gosto. Tenho a sensação que faz anos que não venho para cá.
Caminhando em direção a minha casa passa Camila de moto, ela me vê e apenas me da uma “buzinada” como comprimento.
Continuo caminhando.
Assim que dobrei a esquina para entrar na rua de casa me voltou às lembranças de tudo que já havia vivido ali. Acelerei meus passos, queria chegar em casa.
Abri o portão que rangeu estragando a surpresa que ia fazer para minha mãe. Minha mãe olhou pelo vitrô da sala e me viu soltando um grito:
-Rafael!! Meu filho!
Correu e me deu um abraço muito forte e gostoso. Estava precisando tanto daquele abraço, tava me sentindo tão desprotegido. Segurei para não chorar.
-filho porque não me avisou que iria vir? Eu tinha preparado um almoço especial!
-Eu queria fazer uma surpresa mãe!
Ficamos ali conversando e minha mãe perguntando como estava minha vida lá em São Paulo. Não tive coragem de contar pra ela sobre a morte de Jehh e nem sobre minha demissão.
-Esta tudo bem mãe!!
Apenas contei coisas boas pra ela. E minha mãe sorria. E comecei a olhar e alguma coisa mudou na vida da minha mãe. Não sei dizer bem ao certo, mas parecia que minha mãe também havia “crescido”, virado mulher. Estava mais bonita, estava feliz, estava forte. Senti-me em paz em vê-la assim. Minha mudança foi boa pra todos.
Ao terminar de almoçar, deitei um pouco no colo da minha mãe e ficamos vendo TV. Minha mãe fazendo cafuné nos meus cabelos... Ai que bom estar aqui, pensei.
Cochilei.
Quando acordei minha mãe não estava mais no sofá. E tinha um bilhete dizendo que ela havia ido ao supermercado. Então caminhei por entre a sala, fui para o meu quarto, para a cozinha e estranho que não senti mais que aquela casa era minha, ali não era mais meu lugar, ali agora se tornou a casa da minha mãe. Chorei... Eu realmente estava crescendo. Tornando-me homem.
Logo minha mãe chegou do mercado em trouxe sucrilhos com iogurte. Lembre-me de Jehh, ela não gosta de sucrilhos com iogurte. Que delicia. Mãe é mãe.
Sentei enquanto comia e minha mãe ia me dizendo que estava muito magro.
Logo ela começou a me contar as novidades de São Pedro. Que fulano de tal tinha casado, e fulana tinha se separado. E realmente minha mãe estava melhor do que pensava, ela me disse que sempre estava saindo, indo a festas e churrascos com minha tia. Pra quem conhece minha mãe ela sair significa realmente mudança.
-Você tem que ir à casa do seu pai! Você vai né? Perguntou.
-Claro que vou mãe! Vou sim.
Ir à casa do meu iria ser estranho. Pois quando disse para ele que mudaria para São Paulo ele foi totalmente contra, disse que lá a vida não era fácil e que eu não iria me adaptar e que logo estaria de volta. E agora estava com medo mesmo de voltar, porque já não tinha mais emprego e estava com pouco dinheiro. Mas eu tinha que ir ver meu pai. Então no finalzinho da tarde daquele sábado sai em direção à casa de meu pai.
No caminho encontrei algumas pessoas conhecidas e nossa conversa se resumia num simples “ta sumido menino”... Acompanhado de um sorriso amarelo.
PAI!!! Gritei em frente ao velho portão. Logo veio me atender a mulher do meu pai. Sorriu e ao abrir o portão me abraçou pedindo que entrasse.
-Meu pai ta ai?
-Ta sim... Ta na sala vendo TV.
Entrei. Quando meu pai me viu sorriu também.
-Oi Rafael... Senta ai. E foi se ajeitando no sofá me dando lugar.
Abracei meu pai. Mas ele ficou imóvel não me abraçando. Creio que na época do meu pai homens não se abraça... Mas sou seu filho pensei.
Sentei.
Senti um clima estranho. Sentia-me como se tivesse na sala de pessoas desconhecidas. A gente nunca sabe o que falar com pessoas desconhecidas. Qual o assunto?
-Esta trabalhando Rafael?
-To sim pai. To vendendo portas e janelas.
-Hum...
Acabou o assunto. Meu pai virou-se para TV e continuou assistindo. Estava passando Caldeirão do Hulk. Meu pai não perguntou como eu estava, meu pai não perguntou como era minha vida em São Paulo, meu pai não me perguntou mais nada.
Sentia um nó na garganta.
Perguntei do meu irmão... ”ta la no quarto” disse ele.
Fui pro quarto e ele tava na internet. Viciado. Normal. Sai do quarto fui pra cozinha..conversei um pouco com a mulher do meu pai.
Engraçado que sempre a odiei, mas foi nela que encontrei um pouco de “conforto” naquela hora estranha. Ela m perguntou todas as perguntas que queria estar respondendo para meu pai.
Fiz meia hora de visita e sai de lá com desculpa de ir ver minha vó.
Fui embora. Estava mal.
Voltei pra casa e la fiquei.
À noite logo depois do jantar fui pra casa da minha tia com minha mãe. Ficamos la apenas jogando conversa fora.
Por volta das onze e meia estava em casa dormindo.
No domingo... Almocei. Tirei um cochilo. À tarde não sei o que foi, mas já não estava mais querendo ficar em São Pedro. Arrumei minha mala e fui embora. Com a desculpa que tinha que trabalhar na segunda de manhã.
Minha mãe ficou novamente no portão me dando tchau até que eu dobrasse a esquina.
Sai tão triste de São Pedro. Pensando o quanto eu amo minha mãe, meu pai... Mas eu não faço parte do mundo deles, eu não faço parte daquela cidade. Eu sou diferente.
Tenho que recomeçar de novo em São Paulo.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

MORO EM SAO PAULO! E AGORA? CAP 20

Moro em São Paulo! E agora?
Capitulo 20
Mil vozes... Um DEUS Verdadeiro...

Como sempre fazia, esperava minha mãe sair pra trabalhar. Levantava-me da cama e corria para o portão para trancá-lo. Essa vez a ansiedade era tamanha para começar a ter visões que não me lembrei de fazer.
Fui ate o quintal, peguei a lata de cola que ficava escondida no alto do pé de caju que plantei aos sete anos. Sentei-me no degrau da varanda e orei como sempre fazia.
Orava para Deus me proteger de todo mal e me dar sabedoria para entender as visões.
E pronto começava a luta.
Logo o mundo começou a ter cor, logo o silencio tinha ido embora.
Já não estava mais sozinho.
Não sei dizer qual foi o motivo. Não sei acho que apaguei e quando dei por mim aquilo já estava acontecendo e eu obedecendo.
Parecia que havia mil vozes falando em minha cabeça.
Todas falando ao mesmo tempo:
“se mata que é melhor! Sua vida não tem jeito. Vai e se enforca. Você nunca vai ser ninguém...” repetiam essas frases sem parar na minha mente.
Eu creio que nunca chorei como chorava naquele dia, naquela manhã. Chorava muito... E comecei a obedecer às vozes. Peguei a corda do varal, que na verdade era aqueles fios elétricos grossos que com certeza iria agüentar o meu peso.
Subi em cima do tanque de lavar roupas e amarrei o fio na madeira da varanda. Fiz o laço... As vozes não paravam... Eu não conseguia pensar em nada... Só podia ouvir as vozes... Coloquei o laço em volta do meu pescoço... Chorava... Fui dar o salto fatal... Minha avó paterna aparece do nada na porta da cozinha.
Ela gritou... Clamou pelo Sangue de Cristo na hora... Correu até o tanque e me tirou de cima.
Sei que foi Deus que não permitiu minha morte. Sei que naquele dia realmente iria morrer se Deus não tivesse enviado minha vó em casa. Foi Deus! Minha vó nunca vai à minha casa. Eu sempre tranco o portão e naquele dia eu não tranquei... Foi Deus.
A partir desse dia toda minha família ficou sabendo do que eu fiz, do que eu estava fazendo... Minha mãe só chorava a partir de então.
Mas pensa que parei de buscar as vozes??? Já não conseguia mais parar... Estava viciado em cola de sapateiro. E mais viciado ainda viver naquele mundo “mágico” que a cola me proporcionava.
Passado algumas semanas do ocorrido eu ainda estava cheirando muita cola. Quando não tinha dinheiro para comprar, roubava dinheiro da minha mãe, das minhas tias, da minha vó... Sempre dava um jeito.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Moro em São Paulo! E agora? Cap 19

Moro em São Paulo! E agora?
Capitulo 19
Homenagem à Jehh
Hoje faz exatamente duas semanas que Jehh morreu!
Foi difícil demais se despedir dela. E nem pude ir ao enterro. Não posso lembrar-me do nome Jehh que lagrimas começam a rolar pelo meu rosto.
E não consigo parar de pensar, não consigo parar de me culpar!
Era pra eu ter sentado atrás. Era para eu ter levado os tiros e morrer!
Porque que eu tinha que ter a deixado sentar lá? Porque eu tinha que chamá-la pra sair?
Não tem jeito me sinto culpado pela morte dela! Faltei cinco dias da loja. Estava sem forças pra trabalhar. Fecho os olhos e vejo o jeitinho todo especial de Jehh. Seu sorriso, sua voz, seu carinho por seus amigos, sua paixão pelo cinema... Lagrimas novamente.
Tenho que pensar que Jehh foi um anjo que passou pela minha vida e me entregou um pacotinho onde continha doses de felicidade.
Jehh foi meu presente. Amo você.
Tenho que parar de me torturar. Vou à lan house me distrair um pouco. Apesar de Orkut me lembrar muito de Jehh. Foi por lá que tivemos nossas longas conversas, foi por lá que conheci Jehh de verdade. Foi por lá que ela conquistou minha amizade mais que sincera.
Ao abri meu Orkut na lan, não pude conter novamente as lagrimas.
Um depoimento de Jehh... Que dizia. “Por você danço até a dança do créu... hasuhashua... passe isso para 10 pessoas.”
Tadinha, sempre animada, sempre tendo alguma piada pra roubar o sorriso de alguém!
Jehh que nessa pagina fique registrado o quanto eu amo você, o quando adoro ouvir você dizendo que sou The Best irmão.
Vou lembrar sempre de você e fico aliviado porque sei que nossa historia não tem fim! Te amo te amo te amo...
As lagrimas continuam a rolar....

Moro em São Paulo! E agora? Cap 18

Moro em São Paulo! E agora?
Capitulo 18
Saindo da realidade.
Estava completamente perdido. Mas ainda não tinha a noção que estava saindo da realidade por completo.
As minhas visões continuavam, dia após dia. Já tinha visto de tudo. Dinossauros, discos-voadores, cenas de desastres de avião se chocando no céu, vulcões e tornados se aproximando de casa e destruindo tudo.
Todas as visões me causavam certo pânico. Talvez a palavra “certo” não sirva tão bem nessa frase. O certo mesmo a dizer é: as visões me causavam pânico!
Mas as vozes me diziam que era tudo prova de deus. Estava sendo testado para vencer na vida. Loucura? Claro que é! E as vozes me faziam jurar que jamais iria contar nada a ninguém! Pois se contasse morreria.
Mas sempre questionava as vozes.
-Deus não gosta que use drogas! Como que Deus esta permitindo isso em mim? Fazendo testes comigo usando droga? Nunca vi isso!
Elas me diziam que Moises, o rei Davi e todos os homens mais “poderosos” na Bíblia foram testados assim, que as drogas abriam a mente para o mundo espiritual e isso não estava na Bíblia por que essa verdade apenas se revelava a pessoas especiais.
Na verdade mesmo, fingia que acreditava.
Tudo aquilo era uma esperança de mudar minha vida triste. Tinha tardes que minhas visões eram muito boas, na verdade nem chegava a ser nada. Sentava-se no quintal de casa e conversava com as vozes horas a fio, falava de tudo com eles, a gente ria, eu colocava musicas pra eles e cantava.
Sentia-me entre amigos. Amigos espirituais. Outra vez eles já não eram espíritos eram seres humanos que estavam me treinando. Eles sempre mudavam as formas. E nunca mesmo sabia direito quem era quem. Afinal eles nunca me disseram nomes.
Se apresentavam como Angel´s. anjo em inglês!
Eles me conheciam a fundo. Pois eu não precisava falar. Conversava com eles por pensamentos. Tudo que eu pensava eles sabiam.
E certa vez olhei para a parede e eles me disseram que iriam me contar a verdade sobre quem eram eles. Fiquei ansioso por saber. Ai a forma deles de jovens começaram a se transformar em demônios. Demônios vermelhos e chifrudos. Comecei a rir. Não fiquei com medo porque aqueles demônios tinham um formato muito tosco. Dava para ver que era mentira. Eles riram também da minha cara. Mas logo em seguida de demônios eles se transformaram na Camila e na Carol.
Meu Deus!!! Pensei.
Fiquei Horrorizado. Fiquei com ódio! Porque elas nunca tinham me falado. Afinal fazia três meses ou mais que estava tendo estas visões todos o dias. Elas agora sabiam tudo, tudo mesmo sobre mim. Fiquei envergonhado por saberem meus pensamentos.
E Camila e Carol riam sem parar.. e dizia:
-Não fica bravo Rafael!! A gente te ama!!!
Mas não agüentei.. Tamanha foi a raiva e comecei a xingar sem parar.
Ai as vozes riram e já não eram mais as minhas amigas. Tinham voltado à forma de jovens desconhecidos. Mas ai já era tarde, agora tava com medo de serem elas.
Corri na sala, peguei o telefone e liguei pra Camila e com toda raiva do mundo comecei a xingar ela.
-Camila sua vadia, onde você esta?
-Que isso Rafael? Que aconteceu?? To em casa!!
-Você não esta na sua casa Camila eu sei!!
-Claro que to. Quer ver? Fala com minha mãe aqui.. e passou o telefone para dona Cida, mãe de Camila.
-O que a senhora também sabe de tudo?? Não acredito em vocês! Tomaram que vocês morram!!
Desliguei o telefone com ódio.
Ai olhei para a parede e vi um monte de gente rindo da minha cara, o pior não era eles rirem. O pior que todo mundo que eu via era de São Pedro. Conhecia todo mundo. Tava todo mundo junto. Meu deus a cidade esta contra mim! Toda a cidade.
Comecei a chorar!
Logo mudaram a forma e disseram que eu era louco!! Que eles estavam brincando comigo e eu cai feito um patinho.
Fiquei mal... Mas não sei dizer como logo parecia que eu tinha esquecido aquilo tudo.
Mas depois desse dia mudou algo em mim. Comecei a acreditar que todo mundo ouvia e sabia o que eu pensava. Tinha medo de ficar perto das pessoas. Fugia de todo mundo.
Fechei-me mais que nunca dentro da minha casa.
Mas continuei a buscar mais e mais as vozes! Todos os dias eu comprava cola pra cheirar.
Minha rotina era sempre a mesma.
Minha mãe saia para trabalhar de manha e eu levantava e ia direto pro quintal ver meus amigos espirituais. Apenas parava de cheirar quando acabava a cola por volta das 5 ou 6 da tarde.
As vozes me prometiam tanto uma vida boa que eles se tornaram minha única esperança.
E assim que acabava a cola e o efeito dela passava não ouvia mais as vozes.
Voltava ser eu mesmo. O velho Rafael solitário.